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Sem saber para onde ir, qualquer caminho serve


  • Olhar Econômico
  • 11 de Junho de 2025 | 08h22
 Foto: Reprodução/Rede Social
Foto: Reprodução/Rede Social

“O governo não tem caminho para o país”, disse Armínio Fraga em entrevista recente - “É como se voássemos sem destino, sensíveis à maré das circunstâncias pontuais”.

Há algo curioso sobre um governo que responde a intercorrências circunstanciais com mais cinismo do que ideologia: ele pode fazer qualquer coisa - entre elas, até a coisa certa. Mesmo um relógio quebrado pode dar a hora certa duas vezes por dia.

Uma nova janela se abriu para o debate sobre o ajuste fiscal a partir da retórica do presidente da Câmara dos Deputados Hugo Motta - que tem sido bastante vocal em prol de uma solução edificante para o problema das contas públicas brasileiras.

Em sua coluna na revista Veja, Thomas Traumann, consultor de risco político, foi taxativo sobre o momento.

Segundo ele, as recentes pesquisas Genial/Quaest mostram a perda de favoritismo de Lula para a eleição presidencial de 2026, acrescentando que “os números mostram que Lula estará no segundo turno, mas que, se não mudar o seu governo logo, só vencerá se enfrentar um adversário com o sobrenome Bolsonaro”.

Para completar, “Lula governa muito para quem gosta dele, mas pouco para quem votou nele só para evitar Bolsonaro".

Na esteira do raciocínio de Traumann, podemos inferir que:

I. Se Lula insistir numa condução política — o que inclui a economia, claro — mais à esquerda, mantidas as condições de temperatura e pressão, perderia a eleição para um candidato de centro-direita. Poderíamos até ter um ano ruim pela frente, mas isso contrataria um ciclo positivo de mercado a partir de 2026, que, aliás, poderia ser bastante intenso (só lembrar que o Ibovespa sai de 40 mil para 120 mil pontos com a saída de Dilma e a entrada de Temer).

II. Já se Lula caminhar mais ao centro, o que exigiria uma política fiscal menos perdulária, colocando o país na rota… etc. Esse seria o cenário bom. E o cenário bom… prescinde de explicações.

Então chegamos à seguinte matriz, sob a premissa básica de que não sabemos o que vai acontecer: ou Lula arruma a política econômica e os mercados reagem de maneira positiva desde já, ou ele segue na direção de não fazer o ajuste fiscal, os mercados reagem mal agora e contratamos uma alternância do ciclo de economia política.

Para aqueles capazes de estender seu horizonte temporal até o final do ano que vem, vale ficar comprado em Brasil desde já. Seja qual for a trajetória, sabemos o final do filme. Isso muda tudo.

Por ora, o recente anúncio do pacote alternativo ao IOF é mais um reforço à máxima de que somos o país que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade. Insistimos num ajuste fiscal centrado em aumentar a arrecadação, sem anúncios de corte de gastos.

Hugo Motta, ao menos retoricamente, aparece como uma espécie de esperança. Em evento recente, voltou a insistir em soluções estruturantes de longo prazo e a flertar com uma proposta de reforma istrativa.

O ideal mesmo seria aproveitarmos a janela para debater desvinculação dos pisos de saúde e educação e a mudança do indexador das aposentadorias.

Frustrações à parte, há uma sinalização importante das recém-anunciadas propostas de ajuste fiscal: ainda que pelo lado da receita e sem atacar soluções de longo prazo, existe um compromisso com a não-explosão fiscal.

Para aqueles que não alimentam expectativas ingênuas e trabalham sem falsas esperanças de uma grande guinada ortodoxa e fiscalista, essa me parece uma boa notícia.

Em meu primeiro artigo do ano, defini o ano de 2025 como uma ponte (qualquer semelhança ao documento de 2015 do MDB não seria coincidência): ele é o ano que antecede 2026. Mais do que uma obviedade cronológica, a afirmação pede atenção ao fato de que a grande discussão de Brasil acontecerá mesmo no próximo ano.

Por enquanto, o importante é que a ponte esteja erguida, sem ser dinamitada. Esse é o mérito das medidas de ajuste fiscal.

Neste sentido, a pesquisa Genial/Quaest emite alguns sinais.

Lula empata com cinco candidatos da direita nas intenções de voto, sendo que a maior parte deles ainda é desconhecido pela maior parte da amostra.

Outro ponto interessante é que, além de Tarcísio, outros candidatos de direita sem sobrenome Bolsonaro se mostram competitivos. Então, cria-se um risco importante ao futuro do bolsonarismo: se não nomear um sucessor e insistir em um candidato do seu clã, o ex-presidente pode ver seu indicado fora do segundo turno.

Ou seja, perderia a eleição. Talvez seja melhor um acordo de antemão, o que aumenta a chance de indicação de um candidato sem seu sobrenome. Isso unificaria a direita em torno de um nome, como Tarcísio, por exemplo, o que maximizaria as possibilidades de sua eleição.

Parecem existir sinais escondidos em meio a tanto ruído. A ver.

Por Paulo Nascimento Filho, empresário, assessor de investimentos pela Ancord, influenciador e criador de conteúdo sobre finanças e educação financeira.

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